Testes de campo continuam em muitos países, apesar dos riscos para as florestas
28 de setembro de 2022
Hoje, a Canadian Biotechnology Action Network (CBAN / Rede Canadense de Ação em Biotecnologia) e a “Campaign to STOP GE Trees” (a Campanha para PARAR as árvores transgênicas) publicam um importante relatório que detalha os avanços no desenvolvimento de árvores geneticamente modificadas (GM) em todo o mundo. O relatório está sendo lançado em inglês, espanhol e português.
“O desenvolvimento de árvores geneticamente modificadas está avançando, apesar de sérios riscos para nossas florestas e de uma oposição persistente ao redor do mundo”, disse Lucy Sharratt da CBAN. “Nosso relatório mostra que as árvores geneticamente modificadas estão mais próximas do que nunca de serem liberadas, embora o interesse em árvores geneticamente modificadas seja limitado a apenas um punhado de empresas e pesquisadores universitários”.
O relatório aparece às vésperas da Assembleia Geral do Conselho de Manejo Florestal (FSC), de 9 a 14 de outubro em Bali, Indonésia. O FSC, que administra um programa global de certificação para o comércio de produtos florestais, está em um processo de reavaliação de sua proibição das árvores GM. Em Bali, os membros do FSC votarão duas moções que, se aprovadas, ajudarão a manter essa proibição da engenharia genética pelo FSC.
“Se o Conselho de Manejo Florestal resolver aderir à engenharia genética, ele deixará a empresa brasileira de celulose e papel Suzano livre para começar a plantar seus eucaliptos GM tolerantes ao herbicida glifosato”, segundo Lizzie Díaz, do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM).
A proibição atual de árvores GM no programa de certificação do FSC prejudica os planos da Suzano – certificada pelo FSC – para o plantio de árvores GM no Brasil. O governo brasileiro já aprovou o pedido da Suzano para liberar o plantio comercial de uma árvore de eucalipto GM tolerante ao herbicida glifosato, em 16 de novembro de 2021. Entretanto, a Suzano somente poderá plantar sua árvore GM se o FSC revogar sua política atual, que veda às empresas certificadas o cultivo comercial de árvores GM, ou se a Suzano abandonar o FSC.
O novo relatório analisa como o uso da árvore da Suzano tolerante ao glifosato provavelmente levaria a um aumento no uso desse herbicida em plantações de eucalipto, que já impactam negativamente o meio ambiente, muitas comunidades locais e povos indígenas. Sua aprovação no Brasil foi denunciada por 33 grupos brasileiros de justiça ambiental e social.
O diagnóstico no relatório sobre as pesquisas de engenharia genética em espécies de árvores para plantações em monocultura constatou que:
- A primeira e, até agora, a única árvore GM florestal lançada comercialmente foi um choupo GM em 2002, na China.
- Em 16 de novembro de 2021, o Brasil aprovou um eucalipto GM tolerante ao glifosato, que ainda não foi plantado comercialmente. Se será ou não plantado depende em grande parte de decisões a serem tomadas pelo Conselho de Manejo Florestal.
- Duas outras árvores GM foram aprovadas nos EUA e no Brasil – um pinus loblolly GM e um eucalipto GM, respectivamente – em 2015. Estas também ainda não foram plantadas.
- Existem atualmente testes ao ar livre com árvores GM em vários países, a maioria nos EUA e no Brasil, e também na Suécia, Finlândia, Bélgica, Nova Zelândia, Canadá, Índia e Malásia. A situação dos testes de campo na China permanece desconhecida.
- A maioria das pesquisas com árvores GM trabalha com eucaliptos, além de pinheiros e choupos, na busca de plantações industriais mais lucrativas para a produção de celulose e papel, de madeira e de biocombustíveis.
- A pesquisa prioriza o uso da engenharia genética para um crescimento mais rápido, tolerância a herbicidas, tolerância ao frio e à seca, resistência a pragas e doenças, e qualidade alterada da madeira.
- Pesquisadores da Faculdade de Ciências Ambientais e Florestais, na Universidade Estadual de Nova York (SUNY-ESF) nos EUA, modificaram geneticamente um castanheiro americano para ser tolerante a uma doença, e já solicitaram ao governo dos EUA a autorização para seu plantio irrestrito na natureza.
- Os riscos da liberação de árvores GM compreendem a contaminação indesejada de nossas florestas e muitos impactos negativos não intencionais sobre insetos, aves e outros organismos nos ecossistemas florestais.
“As arvores geneticamente modificadas não são inevitáveis. Mesmo que a pesquisa esteja muito avançada, ou mesmo aprovada para o plantio, as árvores GM ainda podem nunca chegar ao mercado”, lembra Sharratt. “A engenharia genética em árvores é um desafio técnico, é extremamente arriscado para o meio ambiente, e no mundo inteiro é muito controvertida”.
O relatório também observa, entretanto, que recentes mudanças em normas nacionais ao redor do mundo podem acelerar a liberação de árvores GM. Muitos governos estão renunciando a sua responsabilidade sobre plantas desenvolvidas com as novas técnicas de engenharia genética conhecidas como edição de genes. Esta evolução política pode resultar em muitos testes de campo com árvores GM não registrados ou regulamentados, e até mesmo no lançamento comercial de algumas árvores GM sem avaliação dos riscos pelo poder público ou sequer a notificação aos governos.
O relatório e seu Resumo Executivo estão disponíveis nos três idiomas em www.stopGEtrees.org/global-status-report.
O relatório traz também um briefing sobre o Conselho de Manejo Florestal (FSC) em www.stopGEtrees.org/FSCbriefing.
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Para maiores informações: Lucy Sharratt, Canadian Biotechnology Action Network (em inglês), +1 902 209 4906, coordinator@cban.ca
Lizzie Díaz, Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (em espanhol e português), +598 99 375 508, lizzie@wrm.org.uy