Abril de 2015
Carta à CTNBio-Brasil,
No último dia 5 de março, em Brasília, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) tinha marcada uma reunião para discutir a possível aprovação de três novos organismos geneticamente manipulados (também chamados de organismos geneticamente modificados ou OGMs), entre elas uma árvore geneticamente manipulada pela empresa FuturaGene.
A reunião da CTNBio foi cancelada em função de protestos contra A APROVAÇÃO PARA O USO COMERCIAL DESTA árvore de eucalipto geneticamente manipulada. A reunião foi remarcada para 9 de abril.
Durante um dos protestos, uma mulher do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), disse:
“As mulheres Sem Terra vieram aqui para denunciar, rejeitar, dizer que este modelo de agronegócio é o modelo da morte, não da vida. Nós, as mulheres sem terra, estamos aqui para defender o modelo da vida, defender a soberania alimentar, e defender a reforma agrária”.
Concordamos que o pedido da FuturaGene para desenvolver comercialmente o eucalipto transgênico e qualquer outro pedido para liberar o plantio de árvores transgênicas, devem ser rejeitados em função dos riscos significativos e os impactos sociais e ecológicas que não foram adequadamente avaliados.
O cultivo do eucalipto transgênico exporia o meio ambiente a riscos desconhecidos, com impactos irreversíveis sobre a biodiversidade e poderia piorar os impactos sociais e ambientais que já existem em decorrência das plantações industriais de árvores.
- Arvores transgênicas representam graves riscos de contaminação com impactos desconhecidos e irreversíveis sobre o meio ambiente:
Arvores são organismos que vivem muito tempo e têm evoluído para espalhar suas sementes e pólen sobre distâncias grandes. Arvores transgênicas, desenvolvidas a partir de espécies exóticas invasivas e manipuladas para crescer mais rápido, tendem a se tornar mais invasivas. Mudanças não previstas – em geral como resultado do processo de manipulação genética – podem igualmente contribuir para novas formas invasivas ou para mais invasão. Também é inevitável que arvores de eucalipto transgênicas contaminarão geneticamente as plantações não transgênicas no Brasil, mas também na America Latina, com resultados perigosos.
Dado a complexidade das árvores e suas interações com outras formas de vida, é quase impossível avaliar de forma precisa os impactos ambientais das arvores de eucalipto transgênico da FuturaGene, ou até mesmo saber quais são as perguntas a fazer.
- Arvores transgênicas ameaçam a soberania alimentar
Arvores transgênicas fazem parte da captura e mercantilização da natureza, e ameaçam a soberania alimentar. A lucratividade crescente das arvores transgênicas acelerarão as apropriações de terras para plantações de arvores transgênicas, expulsando ainda mais a agricultura camponesa e de subsistência. Além disso, arvores transgênicas poderiam afetar negativamente ecossistemas, inclusive insetos, bem como predadores benéficos que são cruciais para a produção de alimentos e para a cadeia alimentar.
A ameaça adicional da contaminação transgênica do mel exportado desde o Brasil teria impactos devastadores, inclusive sobre a sobrevivência de produtores de mel em comunidades rurais. Há também uma probabilidade grande de contaminação genética massiva, irreversível de plantações não-transgênicas por arvores de eucalipto transgênicas, que causarão ainda mais estragos sobre comunidades e ecossistemas já gravemente impactados por monoculturas de eucalipto.
Resumidamente, o uso de arvores transgênicas pioram os impactos sociais e ecológicas bem-documentados das plantações industriais de árvores: perda de biodiversidade, expulsão de povos indígenas e comunidades locais de seus territórios, destruição de florestas e ecossistemas nativas, e contaminação de ar, agua, solos e pessoas com agrotóxicos.
Por estes e muitos outros motivos, a CTNBio deve rejeitar o pedido de FuturaGene para comercializar arvores de eucalipto transgênicas.
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