Publicação imediata                                                                                       20 de junho de 2019

A Conferência Internacional de Biotecnologia das Árvores na Carolina do Norte será confrontada por organizações opositoras de quatro continentes

Os riscos sociais e ecológicos das árvores transgênicas
levantam protestos globais

Raleigh, NC (E.U.A.)– A Campanha global para parar as árvores transgênicas está convergindo para a Conferência de Biotecnologia das Árvores de 2019 da União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO) colocando em destaque a oposição global à pesquisa e desenvolvimento de árvores transgênicas.

“Pessoas em todo o mundo levantaram-se em protestos nos seis continentes nas duas últimas décadas exigindo uma rejeição total das árvores transgênicas”, afirmou Anne Petermann, Coordenadora da Campanha e Diretora Executiva do Global Justice Ecology Project. “Geneticistas, agricultores, engenheiros florestais, ecologistas, agrônomos e outros especialistas emitiram declarações contra as árvores transgênicas. Ativistas reduziram os testes de campo de árvores GM em vários países. Apenas entre 2015 e 2017, quase meio milhão de pessoas assinaram ou enviaram cartas pedindo uma rejeição total das árvores transgênicas em todo o mundo. Além disso, as Nações Unidas alertam sobre os perigos das árvores transgênicas [1] e o Conselho de Manejo Florestal (FSC) as bane da certificação [2]. Essa crescente onda de oposição não pode ser ignorada”.

Uma carta aberta denunciando a proposta de legalização de árvores transgênicas no Brasil [3] assinada por centenas de organizações foi encaminhada à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) afirmando que “existem graves incertezas com relação aos potenciais impactos ambientais e socioeconômicos das árvores geneticamente modificadas. Já foram relatados impactos inesperados das culturas alimentares GM, incluindo a proliferação de ervas  daninhas resistentes a herbicidas, o surgimento de pestes secundárias que dizimam os cultivos, mudanças na fertilidade, como taxas mais elevadas de cruzamento, além de maior alergenicidade. Considerando-se o ciclo de vida longo e muitas vezes complexo das árvores e sua interação com a biodiversidade, é praticamente impossível prever as consequências e os impactos das árvores transgênicas”.

Durante uma reunião internacional de organizações, redes, comunidades e especialistas contra as plantações industriais de árvores e árvores transgênicas realizada em Porto Alegre, Brasil no início deste ano, Lizzie Díaz, do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais, disse que “as árvores transgênicas implicariam um aumento no uso de agrotóxicos e do consumo de água. A engenharia genética das árvores só beneficia as indústrias de plantações e de papel e celulose, mas para as comunidades que vivem dentro e perto das plantações as árvores transgênicas implicam uma intensificação dos já conhecidos impactos negativos na terra, água, biodiversidade, meios de subsistência e culturas”.

A crescente oposição às árvores transgênicas levou pesquisadores e corporações a buscar novas estratégias para obter aprovação pública, inclusive destacando as árvores transgênicas como ambientalmente benéficas. O problema da “aceitação social” das árvores transgênicas será um dos temas centrais da conferência.

“A oposição às árvores transgênicas levou as indústrias de madeira e biotecnologia a inventar novas ideias para promover suas árvores transgênicas”, afirmou a Dra. Rachel Smolker, co-diretora da Biofuelwatch e co-autora (juntamente com Petermann) de um recente livro branco sobre os castanheiro americano transgênico. “Eles estão usando uma versão transgênica do castanheiro americano como uma ‘árvore de teste’ para tentar convencer o público de que a engenharia genética pode ser usada para melhorar a saúde das florestas. Mas o fato é que essa tecnologia é muito nova e não comprovada. Os castanheiros americanos podem viver mais de dois séculos. Não há como prever os impactos de longo prazo que essas árvores terão sobre as florestas, a biodiversidade ou a saúde humana. O fato adicional de que esta pesquisa incluiu extenso envolvimento e apoio financeiro de empresas como a ArborGen e a Monsanto, que beneficiam apenas ressalta nossas preocupações”.[5]

 “Pesquisadores e indústrias temem a oposição pública às árvores transgênicas com boas razões”, afirmou Brenda Jo McManama, da Rede Ambiental Indígena. “O IEN trabalha com a Nação Cherokee na Carolina do Norte e em 2015 co-organizamos um campo de ação para Povos Indígenas contra as árvores transgênicas”. “Os Povos Indígenas, não apenas nos EUA, mas em muitos países, não querem os riscos que representam as árvores transgênicas em suas terras”.

 Os eventos contra as árvores transgênicas, planejados em torno da Conferência de Biotecnologia das Árvores de 2019 em Raleigh, seguem os protestos contra a Conferência de Biotecnologia das Árvores de 2013 em Asheville, Carolina do Norte e a Conferência de Biotecnologia das Árvores de 2017 em Concepción, Chile. Esta conferência de 2019 foi originalmente planejada para ser realizada em Curitiba, Brasil, onde há um poderoso movimento contra as plantações industriais de árvores transgênicas. Após os protestos no Chile, foi cancelado e mudou-se para Raleigh em março deste ano. Os Coordenadores da conferência de 2019 vêm do Canadá, EUA, Brasil e Chile.

Contato: Steve Taylor [English] Global Justice Ecology Project +1.314.210.1322

Lizzie Díaz [Español / Português] Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais +598.9937.5508

Lucio Cuenca B. [Español] OLCA (Chile) cuenca.lucio@gmail.com

Para entrevistas:

Dr. Rachel Smolker – Biofuelwatch

Brenda Jo McManama – Indigenous Environmental Network

Anne Petermann – Global Justice Ecology Project

Lizzie Díaz – Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais

Lucio Cuenca B. –OLCA (Chile)

 

NOTAS PARA EDITORES

[1] A Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica tem-se pronunciado sobre as árvores transgênicas na sua COP-8, Bonn, Alemanha, Maio de 2008: “A Conferência das Partes, Reconhecendo as incertezas relacionadas aos impactos ambientais e socioeconômicos potenciais, incluindo a longo prazo e impactos transfronteiriços, das árvores transgênicas na diversidade biológica florestal global, bem como nos meios de subsistência de comunidades indígenas e locais, e dada a ausência de dados confiáveis ​​e capacidade em alguns países para realizar avaliações de risco e avaliar esses impactos potenciais, recomenda que as partes adotem uma abordagem preventiva quando tratam da questão das árvores transgênicas “.

[2] As regras do Conselho de Manejo Florestal sobre o uso de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs): “Os Princípios e Critérios do FSC são muito claros sobre a questão dos OGMs, excluindo seu uso dentro dos limites das operações florestais certificadas pelo FSC.” A versão atual 4-0 afirma inequivocamente que “o uso de organismos geneticamente modificados será proibido”. O critério 10.4 declara: “A Organização não deve usar organismos geneticamente modificados na Unidade de Manejo”.

[3] A carta aberta foi entregue por uma centena de organizações à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para expressar sua profunda preocupação e instar a CTNBio a não autorizar a liberação comercial de eucalipto transgênico pela Suzano / FuturaGene. Apesar de todas as reclamações feitas por movimentos e organizações sociais, o eucalipto H421 foi aprovado.

[4] O encontro nacional em Porto Alegre foi organizado pelo Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais, Amigos da Terra Brasil e pelo Global Justice Ecology Project e reuniu movimentos e organizações sociais, povos indígenas e quilombolas afro-brasileiras representando todos os estados brasileiros impactados por plantações industriais de árvores e ameaçadas pela potencial plantação comercial de árvores transgênicas. Também participaram da reunião representantes de organizações no Chile, na Argentina e nos EUA – três países ameaçados pela pesquisa e desenvolvimento de árvores transgênicas.

[5] Para maiores detalhes sobre as preocupações científicas, bem como os laços financeiros e de pesquisa entre a Monsanto, ArborGen, Duke Energy e outros consórcios corporativos, e pesquisa em engenharia genética da castanheira americana, veja nosssa conferência telepress de 14 de maio de 2019.

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